quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dos encontros e relacionamentos. Da arte do amor relacional. Reflexões....

     Dos encontros e relacionamentos. Reflexões, nos transportes colectivos, o autocarro 727 da Carris...
I - O encontro entre duas almas é sempre um acontecimento luminoso porque naturalmente há sempre alguma complementaridade, há raios e energias mais abundantes de certas qualidades e chakras numa das pessoas que vão impulsionar a outra, nem que seja apenas nesse momento, o qual deve ser então vivido com o máximo da intensidade, de acordo com dois ditos da Tradição Perene: Aqui e Agora, português, e Icchi-go Icchi-e, um momento único, japonês.
Quando há mais plena atenção e amor, no encontro, os efeitos são mais profundos e duradouros e, além da intensificação irradiante e mesmo da inspiração que se pode sentir ou obter, é possível estabelecerem-se fios e canais subtis que farão com que se caminhe na Vida em melhor interacção com tais almas então conhecidas ou de quem se está mais próximo ou mais se ama...
Também as palavras pronunciadas e trocadas, ou então apenas imaginadas, podem, pela sua dimensão poética, mântrica e anímica, tornarem-se sementes e árvores por onde a seiva da Inteligência Amorosa Divina circula, estrutura, inspira e religa, ainda que em processos invisíveis e em durabilidade de efeitos que dificilmente concebemos...
Pronunciá-las vindas do coração, ou da nossa interioridade espiritual, conscientes de que elas são portadoras de forças luminosas e abençoantes é muito importante. Por vezes podemos mesmo estar a ouvir uma pessoa e simultaneamente estarmos a harmonizá-la ou a massajá-la com as nossas palavras ditas apenas subtilmente ou irradiantemente do chakra do coração...
Termos algumas que podemos cultivar, relembrar, entoar, meditar e volta e meia fazer uma bola de luz, ou uma chama quente, ou uma flecha ardente, e enviar a alguém, é fazer germinar a luz e o amor nas almas e no Caminho da Vida....

II - A vida é, apesar da unidade da consciência espiritual, tal como o fio de consciência que une as contas de cada dia do rosário da existência, feita da sucessão de múltiplas dualidades, tal como a noite e o dia, o prazer e a dor, a alegria e a tristeza, a confiança e a dúvida, a consciência e a inconsciência, num todo, ininterrupto, caracterizado portanto ora pelas mudanças psico-físicas ora pela estabilização de perenidade consciencial espiritual...
Sábio é o ser que consegue com calma e discernimento, paciência e esperança, cavalgar ou sujeitar-se a todos os contrários mantendo um estado equânime de consciência e a partir do fio, núcleo ou continuidade superior da consciência e operar a sua ligação aos níveis superiores do Universo e de si, ao Bem, ao Espírito e à Divindade ,deles recebendo o néctar da Luz e do Amor Divinos, ou as imagens e informações que por motivos e fontes diversas merece receber....
Saber dominar a atracção e a repulsão, a distração e a dispersão, ou equilibrar os diversos opostos harmoniosa e constantemente, de modo a que a alma não seja perturbada ou desalinhada do seu eixo vertical e espiritual, é então um dos objectivos desta vida de contrastes e de unidades, para que cada ser possa ultrapassar as limitações da sua imperfectibilidade e transitoriedade corporal e pessoal e ressuscitar na sua fulgurância e perenidade espiritual e assim dinamizando luminosa e amorosamente a vivência social...

III - A maior plenitude da nossa relacionalidade com as outras pessoas não depende tanto da racionalidade dos julgamentos, interesses e apreciações mas antes de factores mais subtis e anímicos, tais como afinidades e sincronias que, se frequentemente se revelam passageiras, de quando em quando se revelam mais profundas e duradouras e verdadeiramente dignas de serem cultivadas e fundamente interiorizadas e vivenciadas...
Vasto deve ser então o teu horizonte: a tua pátria não pode limitar-se a um torrão da terra mas deve ser a Terra Lúcida dos que aspiram à Verdade e ao seu Conhecimento vivido, partilhado e aprofundado. As tuas amizades não devem ser apenas as da tua escola, rua ou conhecimentos passados, mas sim a rede infinita de potenciais seres conhecíveis e dialogáveis dentro dos trilhos que podes e deves percorrer...
Mas como nada é dado como certo, como a aprendizagem e o contante endireitamento são partes estruturantes do Caminho, então deves saber morrer nas desilusões e horizontes que surgem inevitavelmente e depois, com o Sol do novo dia, renascer como um peregrino do Amor Sabedoria, sempre aberto às melhores manifestações de de Unidade que possas realizar, dos animais e humanos aos Anjos e à Divindade, qualquer que seja a face ou o nome mais afim de ti...
Assim que a tua irradiação seja como a de um sol, firme, sempre irradiante de luz e calor, isto é, de conhecimento e amor, de fé e de esperança...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A demanda de Antero de Quental. Improviso gravado diante da sua estátua no jardim da Estrela.

Mestre Antero, no jardim da Estrela, em Lisboa numa estátua algo imperfeita e truncada, mas mesmo assim sempre pronto a ouvir-nos ou mesmo a inspirar-nos...    
Breve improviso na noite de S. Valentim de 2014 e pequena leitura de alguns pensamentos de Antero, mas com o fim da bateria, interrompidos antes de que esperávamos...
"O ideal quer dizer isto: desprezo das vaidades, amor desinteressado da verdade; preocupação exclusiva do grande e do bom; desdém do fútil, do convencional, boa fé, desinteresse, grandeza de alma, simplicidade, nobreza, soberano bom gosto e soberaníssimo bom senso... tudo isto quer dizer esta palavra de cinco letras -- Ideal..."   Prosas, I. pág. 343.
 
Fotografia de um excerto de um artigo de Hernâni Cidade, com excerto de poema bem significativo da ânsia de Antero de libertar-se das formas transitórias e caducas e ascender à região do puro pensamento e da Consciência. 
Que intuíra ele desses níveis sem forma e de puro pensamento?
E nesses planos não continuarão os pensamentos a ter formas, mesmo o mais puro pensamento?
Será que a Consciência no seu plano e nível mais elevado essa sim, é sem forma alguma, havendo apenas comunicação íntima no Oceano de unidade de energia-consciência, ou mesmo aí, há formas das individualidades ou centelhas em intercomunicações no grande Oceano de Consciência Divina?                                                            Creio bem que sim: pequenas centelhas divinas....
Eis-nos com desafios anterianos e não só, pois  filósofos, discípulos e mestres os equacionaram e demandaram....

Antero de Quental, um mestre de Portugal. Acerca da sua biografia por José Calvet de Magalhães.

         Antero de Quental, inspirador idealista ético-espiritual...
                                     
                        No jardim da Estrela, em Lisboa..
Antero de Quental, talvez o escritor português mais carismático do século XIX, ressurge de tempos a tempos das brumas do passado graças a alguns fiéis da sua alma, vida e obra, seja os que o leem e o meditam ainda hoje, seja os que o sondam e investigam, tal o embaixador José Calvet de Magalhães que, depois de publicar as biografias de Eça de Queirós e de Almeida Garrett, deu à luz o livro Antero, a Vida Angustiada dum Poeta, em 2006 pela editora Bizâncio.
 
Antero de Quental, nascido em 1842, a 18 de Abril, signo Carneiro, de fogo e, diz-se, do signo de impulsividade, em Ponta Delgada, ilha de S. Miguel, nos Açores, foi bem "um ilhéu que emigra", na expressão de Vitorino Nemésio, e a sua vida de andarilho e indisciplinado no fluir impermanente da vida foi tal que denominaram-no (e considerou-se de certo modo, embora em unidade com o helenismo) budista, não só pela sua aspiração intensa a um indefinível para além da impermanência das coisas e do ser, como também pela sua vida de génio celibatário itinerante (ainda que tivesse os seus amores), portador de sucessivas mensagens revolucionárias, na linha dos yogis indianos ou dos monges budistas, discípulos do Dhamma, da Ordem do Universo, e do Caminho do Meio realizado em sentidos libertadores por Siddhartha Gautama, o Buddha.
Talvez até porque os seus antepassados se tinham notabilizado na religiosidade católica e no livre-pensamento, Antero possuía energias místicas e independentes fortes e ao desembarcar em Coimbra aos 16 anos para estudar Direito lançou-se rapidamente  em leituras das correntes ideológicas, científicas e sociais que então sulcavam as mentes mais avançadas europeias, entre as quais se destacavam as do socialismo nascente, com Proudhon, e as do universalismo espiritual, impulsionadas pelos estudos das religiões e pelas obras de Jules Michelet e Edgar Quinet.
Grande parte da poesia e do drama de Antero de Quental testemunha, resulta, ou estava em sincronia, com o embate formidável de ideias anti-conservadoras e libertadoras, ao qual se entregou com o corpo e alma muito sensíveis, desenvolvendo especulações e estudos filosóficos e éticos notáveis, consignados no fim da sua vida sinteticamente nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do séc. XIX, e anteriormente em muitas análises culturais, sociais e políticas dispersas por publicações, jornais, revistas, e que  estiveram por detrás, dentro e por cima da sua notável e bela, embora frequentemente torturada, poesia. 
Contudo, o facto de terem sido destruídos por ele próprio dois escritos fundamentais acerca da sociedade, religião, metafisica e arte impedem-nos de cingir plenamente a fundura e abrangência do seu pensar, meditar, intuir e ser, ainda que certamente as suas cartas nos transmitam muito disso.
 José Calvet de Magalhães soube na sua biografia recriar alguns dos mais importantes acontecimentos da vida de Antero de Quental, e vemo-lo desde Coimbra, nas suas caminhadas com botas de sete léguas e nas audaciosas participações na Sociedade do Raio, donde saiu em 1862 o Manifesto dos Estudantes da Universidade de Coimbra à opinião ilustrada do país, ponto final no reitor Basílio Alberto de Souza Pinto e em hábitos universitários caducos ou praxes (e que diferença para os nossos dias, onde tais anacronismos opressivo-fascizantes ainda subsistem...).
E pouco depois entrará na intensa polémica literária do Bom Senso e Bom Gosto, 1865, que o desiludirá, entrando depois na intervenção social e ir amadurecendo à custa de muita dor e desilusão, movimento e reflexão. 
Todos estes aspectos exemplares da vida «do guia de uma geração» são bem descritos, numa prosa clara e directa que nos alicia invencivelmente, ou não fosse a vida de Antero de Quental uma travessia rápida e dramática do mar da existência, sempre em busca dos caminhos da Liberdade, da Justiça e da Consciência.
Diferentes interpretações da vida e obra de Antero são inevitáveis, e ainda mais seriam se conseguíssemos entrar nos aspectos íntimos das suas motivações, impulsos e atavismos, pelo que devemos confrontar bem as diferentes visões e compreensões oferecidas e que na realidade ora nos guiam ora nos desviam da verdade, dele próprio, da sua vida e drama.  
José Calvet de Magalhães crê, por exemplo, que a vida boémia estudantil provocou uma úlcera, que terá evoluído para o estrangulamento do piloro, causador das digestões difíceis, que ainda mais o perturbavam pelo seu regime espartano duma só refeição por dia. E pensa que o dr. Filomeno da Câmara e o sábio Jaime Batalha Reis, os únicos que teriam diagnosticado este mal, não o revelaram a Antero por a operação ser então impossível. 
Mas se pensarmos na constante busca de verdade que animava Antero, custa-nos a crer que não o esclarecessem sobre a causa dos seus males. Este aspecto é ainda importante pelas crises de insónia que sofria Antero, ou ainda pelos seus estados de fraqueza e nervosismo  e que para muitos serão determinantes no findar abrupto da sua vida...
As relações de Antero de Quental com algumas personalidades da época formam uma aura de grandes amizades, nascidas na idade  propícia da vida estudantil e no caso bem bafejadas,   temperadas e aprofundadas em debates idealistas e  acções abnegadas, com momentos até de capa e espada, com Camilo e Ramalho Ortigão (este batido em duelo), ou mesmo na inimizade com o torcido, ou algo invejoso, Teófilo Braga. 
Se devemos ou não condenar como coléricas certas atitudes ou cartas de Antero de Quental, ou se as devemos considerar antes expressões de indignação justa, será sempre motivo de controvérsia, mas não é evidente que o facto de pedir desculpa depois de algum acto  implique uma plena culpabilidade. Diga-se porém em abono de verdade que Antero  confessou por vezes em cartas ser de carácter colérico, ou seja, que se indignava fortemente com certas injustiças...
 Oliveira Martins foi um dos dialogantes mais próximos de Antero, mas isso não o impediu de receber uma resposta negativa quando o convidou a participar num ministério com ele. Para Calvet de Magalhães foi uma atitude bastante egoísta, mas discordamos pela simples razão que Antero lhe dá ou diz no fim da carta: «The right man in the right place».  Já noutra ocasião em que Antero de Quental se preparava para concorrer ao cargo de professor universitário foi a vez de Oliveira Martins o dissuadir fortemente, e creio eu para mal dos nossos pecados e vida de Antero...
Não nos espantaremos porém a atitude de Antero se soubermos a conta em que  tinha a generalidade dos políticos do pobre Portugal, tal como escrevera pouco antes a Oliveira Martins, justificando com ironia a sua breve passagem pela capital lisboeta:«Não ouvia senão falar em roubos, tive medo de encontrar algum ministro e ficar sem camisa»... 
       Contudo, em 1890, quando já iam bem longe os ímpetos mais revolucionários, ou a candidatura a deputado pelo idealista Partido Socialista, e se encontrava retirado, mesmo da poesia, ao rebentar a crise ultramarina que culminou com o Ultimatum britânico, Antero de Quental aceita assumir um cargo público, mas por delegação directa popular e fora do aparelho dos partidos e do Estado...
José Calvet de Magalhães descreve, talvez no capítulo mais conseguido do livro, a intrincada situação e o erguer efémero da Liga Patriótica do Norte, da qual Luís de Magalhães, que o convidou, diz:«Era preciso que à frente dessa Liga se pusesse uma consciência absolutamente pura e imaculada, um grande coração generoso e heróico, um nome que a todos inspirasse uma absoluta confiança e fosse já aureolado». 
 Depois de terem sido consultados os estudantes e aprovado o nome de Antero de Quental, este veio de Vila do Conde, sendo recebido entusiasticamente na estação de caminho de ferro da Boavista. E ao fim da tarde, com uma multidão diante da casa onde se hospedara, conta-nos José Calvet de Magalhães, «Antero apareceu a uma varanda, sendo recebido por uma estrondosa salva de palmas e novos e entusiásticos vivas. Pedindo silêncio o poeta disse algumas palavras de agradecimento, manifestando a esperança do bom êxito da campanha de renascimento da Pátria, em que ele agora acreditava sinceramente, em virtude do apoio que recebia dos estudantes», e era realmente esse o propósito que levava o venerando poeta-filósofo a entrar sem muitas ilusões na arena pública...
Bons tempos em que os estudantes eram uma das forças mais vivas, dinâmicas, revolucionárias da Pátria...
Em 7 de Março de 1890, quando o desapoio político partidário causava o findar dessa espontânea e idealista Liga Patriótica do Norte (embora não devamos esquecer alguma influência não só no eclodir da revolução do 31 de Janeiro de 1891 como no futuro movimento portuense da Renascença Portuguesa, de Leonardo Coimbra, Pascoais, Jaime Cortesão e Augusto Casimiro), Antero de Quental redige um «manifesto em que definia a sua posição pessoal e em que, em termos severos, condenava os dois grandes partidos monárquicos e, igualmente, o partido republicano, afirmando que deles nada haveria a esperar...» 
Era o velho panfletário que renascia, o Saint-Just de que falara Basílio Teles, com Luís de Magalhães, Sampaio Bruno, Jaime Magalhães Lima e o conde de Resende, os principais auxiliares da aventura patriótica nortenha. Mas Oliveira Martins, alertado para o facto, veio de imediato para o Norte e conseguiu convencer Antero a dar ordens de destruição dessa obra manifesto prestes a sair, da qual não escapará um só exemplar. De trágicas consequências este conservadorismo de Oliveira Martins, poderemos ousar pensar e escrever...
Desta intervenção de Oliveira Martins resultou um esfriamento temporário da amizade entre eles, um aumento do pessimismo do poeta e a perda dum documento importantíssimo, a qual, acrescentada à dos dois volumes do Programa de Trabalho para as Gerações Futuras, sacrificados no fogo em 1874 por Antero os considerar imperfeitos, deixou um vazio na evolução histórica das grandes ideias portuguesas e que terá feito alguma falta, face ao afundamento ideológico-cultural das sucessivas governações e mentalidades portuguesas... 
O que diria ou proporia Antero de Quental nos nossos dias? Ambientalismo forte, melhor orçamento para educação e saúde, controle das ingerências corruptoras de corporações e meios de informação, medidas de anti-corrupção, diminuição do número de deputados, unidade nacional supra-partidária, maior independência da tão vendida e manipula direcção da União Europeia, adesão ao BRICS? Mistérios...
  


Tudo se conjugava então após tal desilusão para o regresso final à ilha-mãe açoriana e as despedidas sábias e belas emergem imorredoiras: em Vila do Conde (onde passara os tempos mais serenos e felizes e onde nasceram os Sonetos de maior e mais equilibrada profundidade, ainda que sempre tingidos de um certo vazio espiritual e divino) separa-se ou despede-se de Alberto Sampaio, Jaime de Magalhães Lima e Luís de Magalhães, interrogando este Antero se «depois de ter habitado por tanto tempo aqueles privilegiados lugares ia sentir muitas saudades de tanta doçura e beleza. E Antero, em um daqueles sorrisos mágicos do seu cintilante humorismo, que tanto nos confundia o entendimento como nos alvoraçava a hilaridade, de pronto me respondeu: Não!…Não! Porque em virtude dos meus princípios filosóficos resolvi não ter saudades de coisa nenhuma!». 
Este estado de desprendimento e vivência numa perenidade espiritual sem apêgos ao passado, sem saudades de nada, é de facto uma característica dos nobres viajantes, cavaleiros do amor ou peregrinos da verdade...
E em Lisboa, uns dias antes de partir, em conversa com o seu amigo e condiscípulo Guilherme de Vasconcellos Abreu, estudante e mais tarde professor de sânscrito, este passa-lhe uma frase do fabulário de instrução moral, o Hitopadexa, que considerava apropriado aos Sonetos: «Tudo estudou, aprendeu tudo e tudo executou, quem voltou as costas à esperança e se ampara descansado em nada esperar», a qual Antero regista num papel, talvez vaticinando o encaminhar-se para o banco de jardim sob a palavra "Esperança", onde uns meses depois, já em S. Miguel, repentinamente e devido ao desgosto de ter de se separar das filhas adoptivas, ou porque os seus nervos não conservaram o estoicismo que desejava e pensava,  ou porque sentira que chegara ao fim a sua peregrinação neste vale de sofrimento e ignorância, terminou voluntariamente a sua passagem e demanda no labirinto terreno...
                                
Poder-se-ia pensar que após a publicação do In Memoriam, de 1896, da biografia de José Bruno Carreiro, e da edição das Cartas, por Ana Maria Almeida Martins, e de tantos estudos como os de Leonardo Coimbra, Sant’Anna Dionísio, Joaquim de Carvalho, Manuel da Câmara, Fidelino de Figueiredo, António Salgado Júnior, José Régio, Pina Martins, Eduíno de Jesus, Eduardo Lourenço, José Esteves Pereira, Leonel Ribeiro dos Santos, etc. etc, não mais, não mais haveria a dizer, mas de facto cada nova geração tem a obrigação de revisitar os seus maiores e aprofundá-los com as luzes suas e, assim, esta obra de José Calvet de Magalhães, ainda que não indo tão fundo como mereceria nos aspectos mais íntimos de uma biografia, ou nos filosóficos e metafísicos (tal como se observa no capítulo intitulado Tendências Gerais da Filosofia), vale não só por clarificar aspectos da conimbricense e secreta Sociedade do Raio (embora não refira a menos conhecida Ordem dos Mateiros), das estadias em França, do Grupo dos Cinco, das amizades e inimizades e da lenda da santidade (excelentemente pintada no "Um génio que era um Santo", no In Memoriam de Antero de Quental, por Eça de Queirós), como também por conter um capítulo muito bom acerca das relações internacionais na crise Ultramarina e da famigerada Liga Patriótica do Norte.
E, finalmente, esta obra de Calvet Magalhães vale, por nos permitir reviver, numa estruturação fluída, um itinerário único e sempre actual de beleza, sinceridade e ardente demanda da verdade, num corpo a corpo com a morte que a todos espera, mas a qual, para quem bem viveu, "é mais rutilante na sua noite, que a luz do dia" (e assim esperemos transfigurá-la), e sobretudo para quem no Caminho conseguir persistir no sondar dessa tão difícil  de ser escutada (pois há que cultivá-la da meditação) voz da Consciência ou talvez melhor do Espírito, do Mestre ou Deus interior, a qual como Antero nos segreda:

    "Só no meu coração que sondo e meço,
    Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
    Em segredo protesta e afirma o Bem!"
 
  

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Dia de S. Valentino. Sobre o Amor. Pequeno texto e video...

                                  DO AMOR. 

Do amor humano ao espiritual e Divino. No dia do lendário S. Valentino.
                           

                                                        
                                         S. Valentino, ou do Ocidental Amor

Um S. Valentino  ocidental e afectivo, eis uma gentil imagem dos poderes intercomunicativos do Amor, do Eros, do Daimon inspirador... 
Que consigamos estar em Amor, Ser Amor...


A  more personal and ocidental view of S. Valentine Day,  the winged power of Eros, uniting beyond distances souls in Love's embrace or Kiss... 
Be Love, be in Love, send Love, emanate Love...

                                                          
                                                ON THE BUDDHIC LOVE

A nice, cute or beautiful image of the awakening of the liberating Love and Compassion, from Gautama at the entrance of the center of the Brahma Kumaris in Ajuda, Lisboa,... 
May we become more awakened to the truth in the beings, and attainn Love, in the unity of the spiritual soul of the Cosmos...

Bela imagem búdica, ou seja tanto luminosa como ligada ao arquétipo de Gautama, o Buddha, mostrando ou sugerindo o coração bem aberto e cósmico, o nirvana libertador do Amor... 
Tente estar o mais tempo e mais profunda e amplamente possível em amor e verdade, não só com quem gosta mais mas com todos os seres.
Seja um Espírito luminoso vivenciando a Alma do Mundo no seu melhor...

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dia Nacional do Irão. 11-2-2014. National day of Iran. Poema de Hafiz...

11-2-2014.  Dia Nacional do Irão....
Longa, luminosa e feliz vida para ele e os seus habitantes e Tradição...

Um poema de Hafiz, de Shiraz, sobre o vinho do Amor e do Ser Divino, traduzido por mim,
com a ajuda de  amigas iranianas, em Teerão.
 Que o Amor escorra, flua, brilhe dentro de nós, e que o nosso sangue, almas e espírito consigam tingir e intensificar mais de amor e sabedoria o vasto horizonte íntimo dos seres...

"Quando, quem eu amo, ergue o cálice de vinho na mão,
Logo cai por terra o bazar dos ídolos ilusórios.

Deixei-me tombar, chamando, sobre um monte de pedras,
Na esperança de vir a sentir a ajuda da sua mão.

Caí, como um peixe nas profundezas das águas,
Na esperança de que o Amigo me traria na sua rede

Quem quer que olha para os seus olhos de Luz (Yar) grita:
Eis alguém já inebriado, chamem as autoridades.

Quão feliz é aquela pessoa que, tal como Hafiz,
Mantém no coração o vinho feito antes do pacto de Adão."

Eis-nos com uma pequena comunhão do Amor infinito, primordialmente mitificado no acordo ou pacto da Divindade com o começo da Humanidade: Sejamos Amor, mantenhamos o coração bem vivo e amoroso...
Um cálice, qual o mítico Jaam-e-jam, de Jami e dos mestres espirituais
Poema de Hafiz
Abóbada e árvores do mausoléu de Hafiz em Shiraz
Praticando o Istixara, a leitura ao calhas de uma página do Diwan de Hafiz, mas  que se abre sob a invocação do seu espírito ou de Deus.
Vista geral do jardim e do monumento a Hafiz, tão amado e cultuado.
Impregnações amorosas..
No santuário de Hafiz, em Shiraz, na taça do santo Graal do vinho do Amor Divino... Momentos insquecíveis... Quantos não aspiram tanto a este local mágico, santificado e inspirador peregrinar?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Projecto Geo toca no palácio dos Aciprestes, em Oeiras, 11-1-2014

                   

GEO | SONS DO MUNDO | HORIZONTES. No Palácio dos Aciprestes, Oeiras, noite de 11-1-2014.
Carlos Alberto Cavaco, Marta Lourenço, Catarina Barão, António Carmo e a Inês Martins tocam....
Horizontes... Do espaço e do tempo, do corpo, alma e espírito... 

No fundo ou no firmamente, o horizonte Divino, o Amor Sábio e o Ser Primordial...
Gravação com limitações e obscuridade mas ainda assim com muita Luz e vibrações boas... 
Oiça e eleve-se, com alegria, no grande horizonte antenatal...